O climatologista Carlos Nobre, uma das principais autoridades mundiais sobre mudanças climáticas, alertou que a atual trajetória dos esforços globais para combater o aquecimento global pode levar o planeta a um cenário de irreversibilidade. Durante a 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), que está sendo realizada em Baku, no Azerbaijão, Nobre destacou que as propostas até o momento são insuficientes para evitar o agravamento dos impactos ambientais. Segundo o cientista, os compromissos firmados até agora, especialmente os do Acordo de Paris, não conseguiram avançar substancialmente na meta de redução das emissões de gases de efeito estufa em 43% até a COP28, que aconteceu no final de 2023.
Nobre frisou que, mesmo que os países conseguissem cumprir tal meta, isso não seria suficiente para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius em relação aos níveis pré-industriais.
“Já estamos há 16 meses com a temperatura global acima do limite de 1,5 grau. Existe um grande risco de que essa temperatura não diminua mais. Caso o planeta mantenha essa temperatura elevada por três anos consecutivos, ela se estabilizará em níveis críticos”, explicou o climatologista.
O cientista também apontou que a redução das emissões, de forma a alcançar a meta de 43%, é um desafio significativo, principalmente considerando que a dependência mundial de combustíveis fósseis continua a ser um dos principais fatores que agravam a situação.
“Se seguirmos com essa dependência e não adotarmos uma mudança estrutural, será impossível evitar que a temperatura global atinja 2,5 graus até 2050”, advertiu Nobre.
Apesar das evidências de um aumento na gravidade dos impactos climáticos, muitos dos líderes globais não demonstram a urgência necessária para enfrentar a crise. Faltando pouco mais de três meses para o fim do prazo de atualização das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países, em fevereiro de 2025, poucos governos atualizaram suas metas. O Brasil, que sediará a próxima COP em 2025, foi uma das exceções, ao apresentar uma revisão em suas metas de emissões para os próximos 11 anos.
Carlos Nobre reforçou que a COP29 deve ser um evento desafiador, com negociações mais assertivas, e não uma repetição da COP28, que, segundo ele, não trouxe avanços significativos.
“É urgente debater o risco de chegarmos a 2,5 graus de aquecimento até 2050. Estamos a caminho de um suicídio planetário se não acelerarmos a redução das emissões”, afirmou o climatologista, chamando atenção para a necessidade de ações imediatas.
Além das medidas de mitigação, Nobre também abordou a importância da adaptação, especialmente para os países mais vulneráveis. Os eventos climáticos extremos, como furacões, tempestades e enchentes, têm se intensificado globalmente, afetando até países desenvolvidos.
“Esses eventos extremos são cada vez mais frequentes e graves. O furacão Leme, que matou mais de 200 pessoas nos Estados Unidos, e as inundações em Valência, na Espanha, são exemplos claros dos danos que já estão ocorrendo”, lembrou Nobre.
Em relação às soluções tecnológicas, o climatologista apontou que a inovação pode ser uma aliada na redução das emissões. No Brasil, por exemplo, 75% das emissões de gases de efeito estufa vêm do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, enquanto os outros 25% são causados pela agropecuária, principalmente pela pecuária. “Já existem mercados para carne proveniente de pecuária sustentável, com emissões reduzidas. A pecuária regenerativa é mais lucrativa e produtiva, tornando-a economicamente viável”, destacou Nobre. Da mesma forma, ele observou que alternativas energéticas, como a energia solar e os carros elétricos, têm se mostrado mais vantajosas economicamente quando comparadas às fontes tradicionais de energia e combustíveis fósseis.
*Com informações da Agência Brasil.
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