Bruxelas e Paris anunciaram nesta segunda-feira (05/05/2025), em Paris, investimentos destinados a atrair pesquisadores estrangeiros ameaçados em seus países de origem. O plano inclui um pacote da União Europeia estimado em € 500 milhões e um aporte adicional de € 100 milhões da França.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a União Europeia irá propor novo investimento de € 500 milhões entre 2025 e 2027 para fortalecer a posição europeia na ciência global. A proposta foi apresentada durante o evento “Choose Europe for Science”, realizado na Universidade Sorbonne, em Paris, com a presença do presidente francês, Emmanuel Macron.
O objetivo da iniciativa é tornar a Europa um polo de atração para cientistas estrangeiros, especialmente aqueles ameaçados em seus países de origem. A proposta prevê infraestruturas reforçadas, uma “superbolsa” de sete anos e o aumento do valor complementar das bolsas já existentes até 2027. Von der Leyen defendeu a consolidação do Espaço Europeu da Pesquisa (EER) e prometeu legislação específica para garantir a liberdade científica no bloco.
Em complemento, Macron anunciou investimento de € 100 milhões oriundos da reserva do programa França 2030, ainda não alocados. O presidente também manifestou apoio a propostas legislativas para proteger refugiados científicos, referindo-se ao projeto apresentado pelo ex-presidente François Hollande, que cria um novo status jurídico para facilitar o acolhimento de cientistas em risco.
O plano europeu surge como resposta à crescente instabilidade para pesquisadores nos Estados Unidos, segundo os organizadores do evento. Macron destacou a criação da plataforma digital Choose for Science, lançada em abril, que já registrou mais de 30.000 os, sendo um terço originados dos EUA.
Apesar do anúncio, representantes de sindicatos ses expressaram críticas ao projeto, argumentando que há subfinanciamento estrutural na educação superior e na pesquisa científica na França. Os sindicatos também apontam preocupações com a liberdade acadêmica e a centralização forçada de instituições.
Para Didier Samuel, diretor do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), houve reinvestimento no setor nos últimos anos, mas ainda não foi suficiente para eliminar as deficiências acumuladas. Ele defendeu ampliação dos recursos para tornar o continente competitivo, destacando que salários e infraestrutura na Europa ainda estão abaixo do padrão norte-americano.
Durante a conferência, a comissária europeia de Pesquisa, Ekaterina Zaharieva, afirmou que o bloco já abriga 25% dos pesquisadores globais e que cada euro investido no programa Horizonte Europa gera € 11 em retorno até 2045.
A programação do evento incluiu painéis sobre independência europeia em pesquisa e soberania de dados científicos. Macron alertou sobre riscos decorrentes do enfraquecimento de parcerias com os EUA, especialmente na área de monitoramento sanitário e programas climáticos. Segundo ele, a Europa precisa reconstruir ou proteger bases de dados essenciais para manter a autonomia científica.
Sobre o setor de armazenamento digital, Macron reconheceu que a UE errou ao não construir um serviço de nuvem próprio, hoje dominado por empresas norte-americanas. Ele defendeu investimentos conjuntos entre setor público e privado, com apoio da Comissão Europeia, para estabelecer plataformas europeias independentes.
Macron concluiu afirmando que não haverá soberania estratégica sem ciência independente. Para ele, “escolher a ciência é recusar a vassalagem”, enfatizando a urgência de reforçar o papel da Europa no cenário global da pesquisa.
*Com informações da RFI.
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