Em meio a um cenário de graves indicadores sociais e culturais na Bahia, volta ao debate público a proposta de criação do Museu da Libertação, a ser instalado na Chácara Boa Vista, no bairro de Brotas, em Salvador. A defesa do projeto foi reiterada pelo escritor, advogado e ex-deputado federal Joaci Góes, em artigo publicado nesta quinta-feira (12/06/2025), na Tribuna da Bahia, sob o título “Um gol de placa em favor da cultura”.
Ao longo do texto, o autor traça um panorama alarmante do atual estado da Bahia, mencionando que o estado “vive um período de consolidação de várias crises, a mais grave das quais sendo o baixo IDH de sua população”, marcado por “elevado nível de criminalidade, baixa escolaridade, altos índices de tuberculose, doença de Chagas e hanseníase”, além de deficiências estruturais como a falta de saneamento básico e o crescimento das favelas. No campo cultural, critica o abandono do patrimônio histórico, com destaque para o “desmoronamento do teto da Igreja de São Francisco, coberta de ouro”.
A proposta do Museu da Libertação v554y
A proposta de criação do Museu da Libertação, segundo Joaci Góes, é defendida há anos por instituições culturais de prestígio, como o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, a Academia de Letras da Bahia, a Universidade Federal da Bahia, a OAB, entre outras entidades. O projeto visa transformar a Chácara Boa Vista — uma das cinco residências de Antônio de Castro Alves, o Poeta dos Escravos — no “maior repositório das lutas travadas para romper os grilhões da escravidão”.
Entre os argumentos apresentados pelo autor, destaca-se a relevância histórica da Chácara Boa Vista, onde Castro Alves viveu por mais tempo, compôs obras célebres como Os Escravos e alguns dos seus poemas mais notáveis, como A Boa Vista e Ao Dois de Julho. O local também carrega um simbolismo singular por ter pertencido a um dos maiores traficantes de escravos do Brasil, o que, segundo Góes, cria um “contraste marcante e didático” com a memória do poeta abolicionista.
A trajetória de Leonídia Fraga e a memória de Castro Alves 1c3e5j
O artigo também traz à tona a história de Leonídia Fraga, musa de Castro Alves e figura trágica da literatura baiana, que ou 14 anos internada em estado de loucura na mesma Chácara, então convertida em instituição psiquiátrica. Góes relembra que, ao falecer em 1927, Leonídia guardava manuscritos originais de poemas do poeta, incluindo O Hóspede, considerado por muitos estudiosos como uma das mais belas composições líricas da língua portuguesa.
Repositório da abolição e da memória afro-brasileira 5p224a
O Museu da Libertação, segundo o autor, deve reunir testemunhos materiais da escravidão, bem como registrar o nome de todos que atuaram em prol da abolição no Brasil. Entre os citados estão figuras históricas como Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin e Luís Gama, além de intelectuais como Edison Carneiro, João José Reis, Ana Maria Gonçalves, Kátia Queiroz Mattoso e Gilberto Freyre.
Góes propõe que o museu utilize “o melhor das modernas técnicas computacionais, integrando recursos digitais ao acervo físico” para ampliar o alcance e o impacto da iniciativa no turismo cultural e na valorização da memória histórica da Bahia.
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